09 agosto 2010

Agenda x Twitter

Sempre gostou de agendas. Desde a descoberta, que ocorreu na adolescência quando a escola passou a utilizá-las, até hoje. O mais fascinante nelas é a possibilidade infinita de expressão: são 365 páginas em branco, prontas para serem preenchidas. Sem contar que a agenda a acompanha onde for e pode escrever nela a qualquer momento.

Teve agendas de todos os tipos, desde as escolares até as de trabalho; as com vários dias por página e as de página-dia; algumas tradicionais e outras mais coloridas; aquelas que vinham com frases e aquelas onde escrevia as frases que ouvia; a agenda “sonho de consumo” até aquela que ela mesma montou.

No início passava horas do dia escrevendo nelas. Eram frases, poemas, textos dos mais diversos. Fazia uma coleção para colocá-las todas na agenda. Com os anos, passou a escrever as próprias ideias nelas, e assim começou a fase das agendas-diários. Foram páginas e mais páginas de confissões adolescentes sobre amor, dor, humor... Por isso considera as agendas seus espaços de arte, onde pode criar e recriar todas as suas ideias.

Continua carregando uma agenda sempre consigo. Porém, com o tempo, passou a utilizá-las com mais moderação. São um meio prático de lembrar-se dos inúmeros compromissos que a vida adulta trouxe consigo. Mas a função de auto-expressão permanece intacta.

Por outro lado, a tecnologia proporcionou outra válvula de escape, desta vez virtual: o Twitter. Espaço onde pode-se escrever inúmeras frases por segundo, ou então copiar uma frase que gostar. E são muitas frases num período curto de tempo. Se pudesse ler todas, seriam milhares por dia. Algo inimaginável pra alguém que se contentava com uma frase por dia das agendas antigas.

E quanto disso tudo ela realmente captura? Parece que neste mundo virtual a gente passa os olhos pelas coisas, sem realmente enxergá-las, por que tem a sensação que se algum dia aquela informação for realmente útil, basta fazer uma busca e ela estará lá. Ninguém para pra entender a arte que se esconde em uma frase.

Outro ponto é: por que certas pessoas contam coisas tão rotineiras? Com frases como “Fui na casa da fulana”, “vou pro inglês”, “amanhã tenho prova”, percebe-se que o Twitter se tornou uma agenda pública, pra todos que se interessarem ou não. E o privado deixa de existir. Poucos preocupam-se realmente com o que estão escrevendo nos restritos 140 caracteres.

Tanto as agendas quanto o Twitter são formas de expressão válidas, mas não abre mão do seu espaço particular, que é a agenda. Assim pode escolher o que quer que todos vejam e o que prefire reservar as suas melhores recordações.

De qualquer forma, por qualquer meio, Goethe tem razão: "Todos os dias devíamos ouvir um pouco de música, ler uma boa poesia, ver um quadro bonito e, se possível, dizer algumas palavras sensatas."

Um comentário:

Van* disse...

Muito legal esse blog! Adorei. Vou acompanhar de agora em diante.
Eu não costumo mais usar agenda, acho que até o blog se tornou um lugar onde escrevo essas coisas... O ruim é que o "privado" se perde. Mas até que ponto queremos que seja privado? Escrevemos o que queremos, não é mesmo? =)